16.9.13

O Machismo que você não nota, a patrulha da saia curta, Ivete, Anitta e todas nós!

Foto: Daryan Dornelles

"A estupidez coloca- se na primeira fila para ser vista; a inteligência coloca-se na retaguarda para ver." - Bertrand Russell

Se Russell soubesse o tanto de estupidez que andamos vendo por ai...
Nem sempre é bom saber como as pessoas pensam. Mas eu insisto nessa prática. É sempre surpreendente perceber como tanta gente ainda mantém aquela mentalidade provinciana, atrasada. E não, não estou falando do meu avô. Ele até que é bem moderninho pros seus mais de 80 anos.
Acontece que tem gente que está tão certo de suas opiniões que o facebook virou um mural de imbecilidades e eu, sinceramente, não sei se fico com pena ou com raiva. Mas lamento profundamente a falta de uma consciência coletiva.
Tem coisas que se aprendem na infância, tem coisas que se absorve com o passar dos anos.
Por exemplo, você não catuca o nariz em público porque é feio e sua mãe lhe ensinou isso.
Você não faz comentários maldosos sobre a deficiência de alguém porque você sabe que além de ser errado, é discriminação, é ofensivo e você pode se encrencar. Certo?
Pergunto-me onde foi que as mães da geração anterior erraram pra ter tanta gente pensando asneira por ai.
De onde você tiraram a infeliz idéia de que podem dizer o que pensam de qualquer forma, pra qualquer pessoa? De onde vocês tiraram o direito de julgar, acusar ou tecer comentários a uma mulher qualquer, conhecida ou estranha, a respeito do que quer que seja: seu corpo, suas roupas, seu comportamento? Os americanos chamam isso de “atenção não solicitada.”  Ou seja: Indesejada!
Acho que não preciso exemplificar o significado de “indesejado” aqui.

Vocês ai, que ficam falando das suas opiniões machistas pra quem quiser ver: vocês não tem mãe não? Irmã, prima, tia... Já pensou se começassem a trata-las igualzinho você anda fazendo? 
Uuuhhhhh. Né?


Certa vez, eu voltava da sorveteria com uma amiga quando um sujeito nos abordou dizendo "nossa, eu queria ser esse picolé". Minha amiga arregalou os olhos, assustada, mas eu respondi "quadrado, gelado e com um palito enfiado na bunda?". Minha amiga ficou com muito medo dele reagir, mas sujeito ficou sem ação. Quem fala o que quer, ouve o que não deseja (minha avó sempre dizia isso). Porém, a maioria das mulheres não consegue reagir ao ouvir uma gracinha. 
Ao relatar o ocorrido, ouvi de um conhecido a seguinte frase: "se a mulher é bonita, tem mais que mexer mesmo". Não, não tem! Não tem que mexer, não tem que comentar, não tem que constranger! A gente não tem que andar por ai com vergonha das besteiras que escutamos! A gente não tem que andar por ai com a liberdade de ir e vir limitada porque precisa abaixar a cabeça e fingir que não percebe os comentários maldosos quando passamos por um grupinho de homens, com medo que as palavras virem ações e de repente um deles parta pra cima e nos force a ser o que eles acham que somos: objetos sexuais, brinquedos humanos de satisfação e deleite exclusivo deles.

Por que eu digo isso? Porque é tudo parte de uma coisa só.
O cara que mexe com a moça na rua, o playboy que puxa uma menina pelo braço numa balada e se acha no direito de beijá-la à força, o chato que insiste numa cantada mesmo que a moça tenha dito não, o babaca que aproveita um transporte publico lotado para se esfregar nas mulheres, o marginal que estupra... Todos se acham no mesmo direito. O Direito de falar e fazer o que bem entenderem. 
Vocês já sabem onde termina isso termina, eu estou apenas mostrando onde começa.

Muitos de vocês vão dizer que palavras não são ações. Concordo. Nem todo mundo que passa por uma mulher e fala "ôôôôô gostosa!" vai, de fato, estuprar a moça. Mas é assim que começa. E se vocês disserem "mulher que é mulher bem que gosta de receber uma cantada mesmo" eu vou dar na cara de vocês. Se vocês, homens, acham MESMO que estão agradando, façam uma pesquisa. Perguntem a opinião das mulheres que vocês convivem. Você vai se surpreender com o resultado, a maioria detesta.

RESPEITA A MOÇA!

Nós não queremos andar por ai pelas ruas e ouvir um "nossa, que bunda!", "que gostosa", "ôôô delícia" e coisas do gênero. É ofensivo, é intimidador, é grosseiro, é insultante. Nós só queremos que vocês nos deixem em paz! 
Não somos peças em exposição pra vocês ficarem analisando. Vão para um museu!

Leitura recomendada: CANTADAS OFENDEM - ÉPOCA

Semana passada, postei no meu mural do FB a notícia da Ivete Sangalo pegando o celular de um fã na platéia e repreendendo o rapaz por ter filmado/fotografado sua calcinha. (Confira Aqui)

Eu acho a Ivete engraçada, não sou fã de sua música, mas gosto do jeito dela e como gostei da atitude dela, postei o vídeo.
Para minha surpresa, recebi comentários do tipo "se não quisesse que acontecesse isso, não usava saia curta". Tal comentário foi alvo de discussão e como resposta, o moço postou uma imagem onde a cantora Anitta aparece rebolando a bunda num show. Segundo ele, Anitta não é digna de respeito por se comportar desse modo. Que apenas mulheres como Luiza Bunet, que sabem se vestir com classe, merecem ser respeitadas.

Não riam, gente, não é piada!

Me surpreendo por ver que ainda existem homens com esse tipo de pensamento. Quer dizer que o respeito que vocês, homens, dedicam a uma mulher é proporcional ao tamanho da roupa dela?
Vocês querem criar uma filial do talibã aqui? Sinto muito, queridos, vocês vão ter que se enquadrar porque nós NÃO vamos usar burca!

Ivete, Anitta, Maria, Antônia, Joana, ou seja lá quem for, merecem SIM ser respeitadas. Independente do tamanho da roupa que usam.


Foto: Marcelo Fonseca/Brazil Photo Press/Folhapress
O que define o RESPEITO que você tem por outra pessoa, NÃO pode ser a roupa que ela usa!

A mentalidade dessa patrulha da roupa curta prega que "mulher que se dá ao respeito não usa roupa curta", porque, se usar, é vagabunda, não pode, as ruas são o reduto e o domínio desses seres peculiares que, ao serem acusados de machismo, reagem dizendo que somos feministas demais, reacionárias demais.
Talibãs tupiniquins que ainda não se tocaram do século em que estamos e não se aguentam nas calças.




Vale ressaltar que, estou insistindo nessa tecla da roupa curta, mas a questão não é só essa.
Mulher é assediada na rua, pelo simples fato de ser mulher. Eu, por exemplo, não uso roupa curta. Porque eu não gosto, porque é minha escolha não usar, porque eu não acho que fico bem, porque eu me sinto incomodada achando que a qualquer momento vou me descuidar e deixar a roupa de baixo aparecer. Então, não uso. E o tamanho da minha roupa, não influi no desrespeito que eu também sofro por ai. A questão da roupa é só uma desculpa que vocês usam para justificar (ou não) a própria imbecilidade.


Expliquem-me uma coisa? O que mesmo vocês têm de melhor que a gente? Hein?

As mulheres são julgadas se usam roupa curta ("com uma saia desse tamanho só pode ser vadia"), se não usam roupa curta ("ta parecendo uma tia velha com essa saia enorme"), se não usam ("nunca vi de saia, deve ser sapatão"), se tem o cabelo curto ("parece homem"), se tem o cabelo grande ("fútil, deve viver só pro cabelo"), se trabalha ("quando vai casar?"), se não trabalha ("quer um macho que a sustente"), se teve vários namorados ("vagabunda, óbvio"), se não teve nenhum ("virgem solteirona mal amada"), se tem filhos ("foi o golpe da barriga"), se não tem ("mas você ainda não tem filhos?"), se não querem ter ("como assim você não quer ter filhos???"), se é casada ("se amarrou, não sabe curtir a vida"), se não é casada ("não achou ninguém que queria"), se não quer casar ("piriguete, quer dar pra todos")...

SÉRIO que vocês não tem mais o que fazer?
A mãe de vocês sabe que vocês falam essas coisas na internet?

Por favor, mães de hoje, não eduquem seus filhos para serem trogloditas. Eduquem seus filhos para que eles tratem as pessoas como você gostaria que te tratassem.

Por favor, saiam das cavernas!
Vocês estão só refletindo sombras na parede, a luz está do lado de fora!

Maitena 

"Só os medíocres mostram sempre seu melhor” -  Hippolyte-Jean Giraudoux



Recomendo urgentemente a leitura dos textos a seguir:

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
Expresso pra Dois © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Rafaela Melo :: voltar para o topo