3.3.10

A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón


"Os livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro."

Um dia uma amiga me entregou esse livro para eu ler e passar adiante quando terminasse. Ele vinha com aquelas etiquetas que dizem que o livro não pertence a ninguém e deve circular. O próprio livro traz logo nas primeiras páginas a idéia de que um livro pode ser o melhor amigo de alguém.
Antes de ler, procurei algumas informações sobre o autor e o que encontrei foram declarações apaixonadas, relatos maravilhosos e descobri que o livro era bastante aclamado. Instigou ainda mais a minha curiosidade e quando me dei conta, estava no final do livro, extasiada com a história. Me empolguei mesmo!
Tenho tantas coisas a dizer sobre esse livro que me prendeu desde a primeira linha e me deixou com saudades quando terminou, que nem sei por onde começar...

“Nós existimos enquanto alguém se lembra de nós”.

Trata-se é um romance meio sombrio e misterioso que se passa em uma Barcelona cinzenta, fria e úmida, entre os anos 1945 e 1956.  É um clima quase gótico que fica evidente desde o primeiro momento.
Quando era ainda um menino, Daniel é levado pelo pai ao "Cemitério dos Livros Esquecidos", um lugar cercado de segredos e mistérios que funciona como uma espécie de depósito para livros abandonados, quase sempre escritos por escritores malditos ou esquecidos. Lá, o menino tem a oportunidade de escolher um livro do qual seria guardião e deveria garantir que nunca desaparecesse. Daniel sente-se atraído pelo romance "A Sombra do Vento" do autor Julian Carax. Filho de dono de livraria, ele estranha nunca ter ouvido falar naquele livro ou em seu autor e decide levar o exemplar para casa. O menino fica fascinado com a história, sem saber que esse livro maldito o arrastará para uma teia de acontecimentos imprevisíveis.
Daniel resolve procurar por outros títulos escritos pelo autor e descobre que não existem registros ou qualquer informação sobre o autor, apenas que ele foi dado como morto em circunstâncias não muito claras. Descobre também, que alguém está comprando todos os volumes disponíveis no mundo inteiro e queimando-os em seguida. Alguém quer tirar todos os livros do autor de circulação e o que ele possui, é provavelmente o último exemplar de um livro de Julian Carax.
A busca por esse autor desaparecido, por seus livros e sua história, transformará a vida de Daniel, tornando-o homem através do amor, da descoberta da sexualidade e da construção do caráter.
Um livro sobre outro livro? É o que basta para reconhecer o brilhantismo da narrativa.

"Um segredo vale o que valem aqueles de quem temos de guardá-lo."

Uma coisa que eu gostei muito nesse livro, é que ele conta duas histórias simultâneas. Ambas envolventes. Temos dois protagonistas, pessoas de verdade com qualidades, defeitos, identidade e cada um tem suas próprias questões. Ninguém é coadjuvante.
Em dado momento, uma história parece encerrada e a outra em andamento. Depois o autor inverte e dá prosseguimento na que parecia encerrada. Achando que acaba por ai? Pois o autor trás as duas histórias para o mesmo plano e mistura uma com a outra. Difícil de entender? Talvez só porque eu não consigo explicar mais claramente. Lendo o livro vocês compreenderão o que eu quero dizer.

Zafón conseguiu me envolver capítulo após capítulo, deixando-me ansiosa com o desenrolar dos acontecimentos e me surpreendendo a cada reviravolta na história. Cada vez que eu achava que estava deduzindo o rumo da história, algo inesperado me fazia repensar no que eu achava que estava prevendo. Para os que gostam de saber a classificação do livro, Zafón escreveu um livro inclassificável. Quero dizer, não podemos dizer se é romance, policial, suspense ou comédia. Seria um erro não classificá-lo em todas elas. Aí está todo o mérito do autor.
O livro é genial e todos os ingredientes estão na medida certa! Zafón não deixa nenhum ponto sem nó. A Sombra do Vento é um colírio para os olhos dos bibliófilos! Se você for ler apenas UM livro esse ano, recomendo que leia A Sombra do Vento. Atreva-se a abri-lo e não conseguirá fecha-lo até terminar. Foi pra minha lista de favoritos!


"Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. [...]
Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. [...]
Poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração. Aquelas primeiras imagens, o eco dessas palavras que julgamos ter deixado para trás, acompanham-nos toda a vida e esculpem um palácio na nossa memória ao qual, mais tarde ou mais cedo - não importa quantos livros leiamos, quantos mundos descubramos, tudo quanto aprendamos ou esqueçamos -, vamos regressar."


Pra finalizar, reproduzo uma frase da contracapa do livro:
"A Sombra do Vento é uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros"
Precisa mais?
Fiquem com o troco!
Próximo =)

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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